Via Dutra – Foto: Lucas Lacaz Ruiz / Agência O Globo

Companhia venceu certame ao oferecer o desconto máximo da tarifa de pedágio previsto no edital de 15,31%

O GLOBO – Economia

João Sorima Neto e Manoel Ventura

29/10/2021 – 15h43

SÃO PAULO — Após mais de 25 anos do primeiro leilão de concessão à iniciativa privada, a via Dutra, que liga as duas maiores metrópoles do país, São Paulo e Rio, continuará sendo administrada pela CCR. A companhia venceu a Ecorodovias ao oferecer o desconto máximo da tarifa de pedágio previsto no edital de 15,31%.

 

A CCR ofereceu valor de outorga de R$ 1,77 bilhão. A Ecorodovias ofereceu desconto do pedágio de 10,60%, sem outorga.

 

Inovações: Conheça as novidades que a CCR terá que implementar na Dutra

 

A via Dutra é considerada a rodovia mais importante do país. Liga as duas maiores cidades brasileiras, responsáveis por cerca de 50% do Produto Interno Bruto do país.

 

É também a principal ligação entre o Nordeste e o Sul do Brasil, e apresenta o maior volume diário de tráfego. São 625,8 quilômetros de extensão concedidos, que também incluem um trecho da BR-101, rodovia Rio/Santos, entre a zona oeste do Rio e a cidade de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, passando por cidades turísticas como Angra dos Reis e Paraty.

 

Em 2019, antes dos efeitos negativos da pandemia que reduziu o fluxo de veículos nas estradas, a Dutra registrou receita bruta de R$ 1,43 bilhão.

 

O leilão deu início ao que o governo vem chamando de “Super Infra”, uma nova temporada de leilões de infraestrutura de transportes do Ministério da Infraestrutura, com o objetivo de garantir mais R$ 23,5 bilhões para o desenvolvimento do setor.

 

Em abril passado, o governo também realizou a “Infra Week”, em que concedeu à iniciativa privada 28 ativos, entre aeroportos, ferrovia e portos. Na ocasião, foram arrecadados R$ 3,5 bilhões em outorgas e R$ 10 bilhões em investimentos contratados.

 

A nova concessão da Dutra será válida por 30 anos. Estão previstos investimentos de R$ 14,8 bilhões, a maior parte nos primeiros nove anos.

 

Desse total, quase R$ 1,5 bilhão serão aplicados somente no município de Guarulhos para solucionar gargalos e facilitar o acesso ao aeroporto internacional de São Paulo. Outros R$ 1,2 bilhão para a duplicação da pista na Serra das Araras, uma obra considerada pelos especialistas complexa e desafiadora.

 

Além disso, serão mais de 600 quilômetros de faixas adicionais para ampliação de capacidade, 80 de duplicação no Rio, 144 de vias marginais e a construção de estruturas.

 

O projeto inclui ainda a implantação do sistema free-flow de pedágio, que substitui a cobrança em praças físicas de pedágios ao longo da rodovia por um sistema de custo por quilômetro rodado.

 

O uso de tags de pagamento automático é uma das principais formas de captação dessa ‘quilometragem rodada’, possibilitando o cálculo do preço a ser pago pelo veículo. O free-flow será usado apenas no trecho da chegada a São Paulo, um dos mais movimentados.

 

Também está previsto monitoramento com câmeras automáticas para a identificação de incidentes, wi-fi para emergência e iluminação por LED em toda a rodovia. Outra inovação é o Desconto de Usuário Frequente (DUF).

 

A ideia do governo é minimizar o impacto de tarifas de pedágio para usuários que precisam utilizar a rodovia para deslocamentos frequentes, entre cidades próximas. Também será criado o Desconto Básico de TAG (DBT), que prevê desconto de 5% sobre a tarifa de pedágio a quem utilizar a tag eletrônica para fazer o pagamento.

 

Na BR-101, que inclui as cidades turísticas de Paraty, Angra dos Reis e Ubatuba, as três praças de pedágio terão valores diferenciados entre os dias da semana e os fins de semana e feriados.

 

Assim, as tarifas sazonais na BR-101 terão um aumento de 66% nos fins de semana e feriados sobre o valor praticado durante a semana.

 

O edital prevê a construção de quatro áreas de descanso para caminhoneiros, comum em outros países, mas raro por aqui: serão três na Dutra e um na BR-101, com espaço para descanso, banheiros e internet.

 

Os analistas de transportes da XP, Lucas Laghi, Pedro Bruno e Gabriela Ferrante, avaliaram o leilão como o “maior processo competitivo de rodovias do mundo”.

 

Embora a competição pela rodovia tenha ficado restrita a dois competidores devido à complexidade da operação e altos investimentos, a Dutra era considerada a joia da coroa entre as rodovias nacionais, já que o trecho entre as duas maiores cidades do país está maduro.

 

Ou seja, já apresenta receita, reduzindo a necessidade de elevado endividamento para que sejam feitos os investimentos. Os analistas também veem potencial de crescimento da receita.

 

“A tarifa básica de pedágio tem dois aumentos em contrato por conta dos investimentos: 4% para o investimento na Serra das Araras a partir de 2029 e 6% para as melhorias na rodovia BR-101 a partir de 2031.

 

O investimento de R$ 14,8 bilhões está concentrado nos nove primeiros anos de concessão e, como o trecho entre SP/RJ está maduro, vemos a necessidade de baixa alavancagem para os investimentos. Depois desse período, a expectativa é de uma forte geração de caixa”, escreveram os analistas da XP.

 

A CCR também continua se beneficiando das sinergias de outras estradas já operadas pela companhia, além do ganho de escala.

 

A CCR entrou como favorita na disputa depois de se consolidar como uma das principais investidoras em infraestrutura do país este ano. Além de operar quase 4 mil quilômetros em estradas, em 18 concessões em seis estados brasileiros, ganhou este ano a licitação para operar as linhas 8 e 9 da Companhia de Trens Metropoltinos (CPTM) em SP. Também opera as linhas amarela e lilás do metrô paulista.

 

Este ano, consolidou sua posição como maior operador de aeroportos do país. Em abril passado, a CCR Aeroportos foi uma das principais vencedoras, ao arrematar o bloco Sul e Central com oferta de outorga de R$ 2,1 bilhões, um ágio de 1.534% sobre o valor mínimo.

 

A CCR ficou com a concessão de 15 aeroportos na ocasião, entre eles Curitiba, Goiânia e Palmas.

 

Em outubro, a empresa arrematou também o Aeroporto Carlos Drummond de Andrade, mais conhecido como Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. A CCR já administra o terminal de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, em parceria com a operadora suíça Flughafen Zürich, o que deve trazer mais sinergia para a operação.

 

Também está interessada em participar das concessões do aeroporto Santos Dumont, no Rio, e de Congonhas, em São Paulo, que devem acontecer em 2022.