A Petrobras não precisa e não pode fazer novos reajustes dos preços de combustíveis. A desculpa de aumento do custo do barril de petróleo no mercado internacional não cola. Nem guerra na Ucrânia, nem flutuação do dólar, nem nada que esteja acontecendo fora do Brasil é justificativa para a empresa aumentar seus preços.

Além de ser uma das maiores produtoras de petróleo do mundo e de ter um dos mais baixos custos de extração de óleo bruto, a Petrobras paga tudo em real. Com exceção de alguns equipamentos importados, os grandes custos da empresa, como salários, pesquisa e desenvolvimento e insumos, são cotados na moeda brasileira.

A Petrobras tem 80% de seus custos em reais e 80% da produção de petróleo extraída diretamente do solo nacional. Nada justifica a paridade dos preços dos combustíveis com o dólar. Essa política só interessa a uma minoria privilegiada, como os caros e ineficientes funcionários, além de alguns investidores e acionistas da Petrobras, muitos deles estrangeiros.

Do outro lado, bancando os privilégios, estão os trabalhadores, os caminhoneiros, os transportadores em geral e os produtores agrícolas, que trazem o alimento à nossa mesa.

Uma empresa estatal que paga em real e cobra dos consumidores em dólar é desonesta e insensível. A Petrobras engana e explora o povo brasileiro.

A comparação com outros grandes produtores mundiais de petróleo revela o disparate e a má fé dos preços da Petrobras.

Segundo o Global Petrol Prices, no mês passado, o óleo diesel custava na Arábia Saudita US$ 0,168; no Irã US$ 0,010; na Rússia US$ 0,502; na Venezuela US$ 0,025 e, no Brasil, astronômicos US$ 1,082.

No caso da gasolina é a mesma coisa. Em fevereiro, no Brasil o litro custava US$ 1,271; nos Emirados Árabes US$ 0,849; na Rússia US$ 0,480 e na Venezuela os mesmos US$ 0,025. Os preços da Petrobras são sempre os mais altos.

Há outras distorções. Como pode uma empresa que detém o monopólio definir os seus próprios preços? O controle de preços dos combustíveis tem que ser feito pela ANP – Agência Nacional do Petróleo, do mesmo jeito que ocorre em outros setores, como energia e telecomunicações.

Nada justifica a indiferença da Petrobras em relação aos males que sua política de preços  está causando aos transportadores e a todos os brasileiros. Afinal, a empresa não é patrimônio do povo a quem ela deveria servir?

Assim sendo, o governo deveria distribuir as ações da empresa para a população. Desta forma a Petrobras estaria automaticamente privatizada e seus lucros e dividendos nas mãos dos verdadeiros donos e mantenedores.

Outra medida urgente é abrir o mercado de petróleo. O subsolo pertence à união e deve ser gerido pelo governo para aumentar a concorrência e reduzir preços. Chega de monopólio predador.

Com privatização, controle de preços pela ANP e maior concorrência, sem os privilégios e a enganação da Petrobras, o Brasil terá uma política de combustíveis honesta, mais equilibrada e adequada às necessidades do país.

Clésio Andrade, empresário, empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, ex-senador, ex-presidente da CNT – Confederação Nacional do Transporte.