Eletrificação, inteligência artificial, cidades digitais e people analytics para melhorar a diversidade foram temas abordados no segundo dia do evento, em São Paulo

Por Agência CNT Transporte Atual

17/08/2023

A forma como os avanços tecnológicos impactarão o transporte, como será tratado o uso responsável da inteligência artificial, a interação da sociedade com as cidades digitais e a tendência de eletrificação foram os temas abordados no segundo dia do SEST SENAT Summit – Transporte-se para o futuro. O evento reuniu centenas de líderes e executivos das maiores empresas de transporte do Brasil no Teatro Santander, em São Paulo (SP), nesta semana.

O futuro das tecnologias aplicadas ao transporte foi debatido sob a ótica atual e futurista, analisando o processo de transformação digital brasileiro em curto, médio e longo prazos.

Veja a seguir os destaques das palestras

People analytics

À medida que as organizações reconhecem que a diversidade é mais do que uma simples responsabilidade social, e sim um catalisador de inovação e sucesso, o papel do people analytics — método de gestão de pessoas baseado na coleta e análise de dados sobre os funcionários — torna-se ainda mais crucial para as empresas. Essa foi a tônica da palestra de Fernando Ladeira, vice-presidente da Falconi, uma das maiores consultorias do país de gestão empresarial e de pessoas. Ele explicou que, por meio da coleta e análise de dados, é possível decifrar os benefícios tangíveis de uma força de trabalho diversificada.

Ele reforçou como o uso de people analytics é essencial para os times de pessoas sobreviverem à complexidade que as empresas vivem atualmente. Usar os dados para entender as necessidades de cada persona é fundamental, já que é humanamente impossível, com organizações maiores, conseguir perceber as especificidades de cada um. “Use esses dados para tomar melhores decisões, no sentido de proporcionar ambientes de trabalho melhores. Eu acredito em ambientes em que as pessoas estão mais engajadas e mais felizes se, de fato, as empresas conhecerem os colaboradores”, afirmou Fernando Ladeira.

Outro alerta dado pelo especialista foi referente à importância de tratar do tema “diversidade e inclusão” e inverter a ordem dos dois. “Se você não trabalha na preparação das empresas para, de fato, incluir essas pessoas, quem está fora não vai se sentir atraído, porque não percebe essa inclusão. Então, minha dica é: comece pela inclusão, prepare quem está dentro para, de fato, receber essa diversidade e, depois, comunique isso para fora, para despertar o interesse das pessoas”.

Tendência de eletrificação

O palco Futuro das Tecnologias Aplicadas ao Transporte recebeu também, na tarde dessa quarta-feira (16/08), um interessante debate entre o diretor de redação da revista Autoesporte, Marcus Gasques, e o vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes. O foco foi o cenário da eletrificação de veículos e as mudanças de infraestrutura e de mercado que essa nova realidade está trazendo.

Segundo eles, a eletrificação no Brasil está no início, começando pelas aplicações urbanas de entrega, em que a parte técnica dos veículos é viabilizável sem grandes estruturas. “Por exemplo, um caminhão roda 70/80 km para distribuição urbana, durante um dia inteiro, e pode voltar para a base para carregar e, no outro dia, operar novamente. Para longa distância, ainda é um desafio. A gente brinca que caminhão foi feito para carregar mercadoria, e não bateria. Então, o desafio tecnológico é como reduzir o peso e aumentar a autonomia das baterias para que, no futuro próximo, a gente possa ir para longas distâncias”, exemplificou Moraes. Ainda de acordo com o representante da Anfavea, o emplacamento de veículos elétricos em fevereiro de 2023 foi 100% maior na comparação com o mesmo período do ano passado.

Ele explicou que a tecnologia da bateria está evoluindo muito e de forma rápida. A indústria está fazendo um grande investimento para melhorar a sua performance — incluindo peso, tamanho e autonomia. “As montadoras estão muito preocupadas também em como tratar a bateria ao final do ciclo. Isso faz parte do nosso programa. A gente está muito atento e vai orientar o cliente em como fazer o melhor descarte ou reutilização dela em breve”, cita Luiz Carlos.

Um ponto de destaque para o debate foi a apresentação de um estudo lançado pela Associação, nessa quarta-feira (16/08), a respeito do impacto da eletrificação em toda a cadeia de produção, incluindo os fornecedores. “Ao longo da introdução dessas novas tecnologias, a gente vai deixar de produzir determinadas peças e componentes, e passar a produzir outros. Fizemos um retrato do hoje e, a partir daí, vamos começar a pensar em soluções e políticas públicas que ajudem e acelerem a descarbonização e mitiguem o efeito negativo na cadeia do fornecedor”, relatou o representante da Anfavea.

Clique aqui e acesse o estudo da Anfavea.

 

IA no transporte

 

Os progressos recentes da inteligência artificial a colocaram no centro de uma imensa transformação social. Ela deve otimizar o sistema de transporte e permitir que empresas inovadoras assumam o protagonismo na resolução dos grandes desafios globais da atualidade.

Alexandre Nascimento, expert global da Singularity University em robótica e inteligência artificial, e pesquisador na Universidade de Stanford, explica que a inteligência artificial permite conciliar coisas que pareciam não conversar antes. “Dá para otimizar sua operação, ter questões sustentáveis e ambientais em pauta, maximizar a utilidade para o usuário e, consequentemente, ter mais lucro e capturar a maior parte do valor gerado a longo prazo”, explicou.

Durante a palestra, ele informou que haverá uma mudança drástica nos sistemas logísticos por meio da inteligência artificial. “A gente vai ter coleta de dados em tempo real, com previsão daquilo que vai acontecer, e as linhas de ônibus vão ser redesenhadas. Isso vai permitir que as empresas utilizem muito menos ônibus e gerem menos pegada de carbono e menos implicações sociais, ambientais e do trânsito”, detalhou.

“A gente tem que olhar para IA com cautela, buscar o equilíbrio entre responsabilidade social e ambiental, resultado da empresa e resultado para o usuário. A inteligência artificial virou um grande conciliador desses três pilares. Se você buscar isso, sua empresa vai ter sucesso no futuro”, alertou Nascimento aos empresários presentes.

Cidades digitais

Como é possível pensar a integração da cidade física com aquilo que digitalmente está sendo criado? Esse foi o questionamento lançado por Felipe Chibás Ortiz, professor pela Universidade de São Paulo e colíder internacional de cidades MIL Aliance pela Unesco. O especialista destacou que é preciso entender como as coletas de dados acontecem e são reutilizadas, e de que maneira a inteligência artificial participa do processo.

“Temos que fazer uma integração das cidades físicas com as cidades digitais, ou inteligentes. Essa intersecção de ambos os tipos de cidades, nós costumamos chamar, hoje, na Unesco, de Cidade MIL, ou Cidade Media Information Literacy, que são cidades que utilizam toda as novas tecnologias sem esquecer os problemas atuais, as barreiras que existem nas diversas formas, seja por questões de religião, de gênero ou referente a pessoas com deficiência”, detalhou Chibás.